segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Um dia você acorda no meio de uma megalópole...
segunda-feira, 24 de maio de 2010
UMA TEMPORADA NO INFERNO

terça-feira, 16 de março de 2010
ENCRUZILHADA
O esforço é grande e o homem é pequeno.
[Fernando Pessoa]
Não há como escapar, dado que somos seres de infinitas possibilidades, nossa vida nada mais é do que o resultado de nossas consecutivas escolhas. São as opções que nos matam. Há quem perca horas escolhendo a roupa para sair de casa. Na bolsa de valores, há quem decida o destino de milhões de dólares em segundos. E ainda há a noiva indecisa na hora do “sim”, já no altar; o goleiro, diante do pênalti; o suicida, no alto da ponte; o enxadrista, posto em cheque pelo computador; ou mesmo o santo, convidado a negar sua fé ante o carrasco.
Das mais simples às mais complexas, toda escolha tem o poder de mudar a nossa vida. Talvez o mais triste seja saber que ao termo de uma escolha, todas as outras possibilidades relacionadas a ela, cessem naquele instante. Talvez essas possibilidades ressuscitem nalgum momento futuro, mas o momento da escolha é o momento da morte de todas as possibilidades não escolhidas. Por isso vivemos um eterno luto pela morte da vida que não tivemos.
Todo dia me arrependo de centenas de escolhas que fiz. Não sou hipócrita a ponto de afirmar que, ao rever a minha vida, faria tudo igual de novo. Se pudesse mudaria um monte de coisas das quais não me orgulho de ter feito, participado ou escolhido sem a devida reflexão necessária. Eis o ponto, refletir sobre as escolhas é fundamental. A reflexão não garante sucesso ante uma escolha, porém garante a dignidade de no futuro, mesmo ante uma escolha incorrigivelmente desastrosa, imaginar que, naquele instante da peleja, ela era a mais plausível entre todas as outras.
Hoje estou numa encruzilhada. Como todo mundo um dia já esteve, como todo mundo um dia vai estar. Só queria um pouco da coragem daqueles navegadores ibéricos que, sob as bandeiras de Portugal e Espanha, escolheram enfrentar os temidos monstros e abismos de além-mar. A humanidade aprendeu com eles que uma atitude corajosa pode receber a recompensa de um Mundo Novo. Hoje preciso da sorte de um Cristovão Colombo, que errou um caminho e achou o eldorado americano; da firmeza de um Fernão de Magalhães, vencedor dos mais sangrentos motins; e da sagacidade de um Diogo Cão, homem que nunca esqueceu de deixar seus marcos onde foi preciso escolher. De todos eles quero a coragem para, a revelia de qualquer escolha, seguir em frente.
Este é o momento de deixar o atual padrão e para adiante navegar. Será?
Fica o poema “Padrão” do homem que escolheu ser poesia, Fernando Pessoa, cantado pelo homem que escolher ser música, Caetano Veloso.
Pax Vobiscum Amices
Até a próxima.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
O PESO NO CORAÇÃO DE J. D. SALINGER
O homem maduro contenta-se em viver humildemente por ela.
***
Holden Caulfield
Holden Caulfield não gosta de praticamente ninguémMas quando gosta é de verdade.Holden Caulfield não é de jogar conversa foraMas sempre quer ter alguém para conversar
Holden Caulfield não nasceu para bajularE se bajula, é porque a pessoa merece
Holden Caulfield mente compulsivamente
Mas só conta mentira quando é necessário
Holden Caulfield é muito mulherengo
Pelo que sei só ama uma mulher
Holden Caulfield não gosta de estudarMas só porque na escola todos são uns chatos
Holden Caulfield adora fumar, beber, e se divertir até tardeMas só porque é menor de idade.Holden Caulfield é um cara meio estranhoMas só aos olhos de quem é “normal”
Holden Caulfield só quer uma cabana na florestaUm emprego num posto de gasolina, porque é só isto que lhe é necessário.Holden Caulfield só quer que todos lhe esqueçamPelos menos por algum tempo.Holden Caulfield só quer serThe Catcher in the Rye, assim como eu
***
Pax Vobiscum Amicis
Até a próxima!
sábado, 2 de janeiro de 2010
MÍNIMA RESTROSPECTIVA LITERÁRIA [2009]
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
A LITERATURA E SEUS “PERSONA-GENTES”
"Madame Boavary sou eu". (Gustave Flaubert)
Donde surge um Dom Quixote, um Geraldo Viramundo ou uma Dona Benta? Aladim, Sherazade e Diadorim seriam fruto único e exclusivo do intelecto dos autores que os imortalizaram? Ou será que Holden Caufield é apenas um adolescente comum que simplesmente foi transportado para as páginas de um livro?
Nada é criado do nada. Segundo a máxima de Lavoisier, “no universo nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Nem mesmo a literatura pode escapar a isso. Apesar do universo literário aparentemente ser primo fruto do gênio imaginativo dos autores, recebendo o nome de ficção nas prateleiras das livrarias e bibliotecas, não podemos esquecer de que todo texto de um autor e, consequentemente, seus personagens são parte de um universo maior do que o próprio autor. Toda pessoa é constantemente encharcada por sua época, pelas pessoas com quem convive e pelas luzes e sombras que compõem sua existência. Os autores não são diferentes. Suas obras são reflexos das ideias de sua época, das pessoas com quem tomaram parte, das viagens que fizeram e do estado de espírito pelo qual passaram pela vida. A diferença entre a transformação literária e a transformação literária reside na imaginação. O universo transforma matéria bruta em matéria bruta. O homem, por meio do intelecto é capaz de lapidar. O personagens literários, são pessoas lapidadas.
Assim, Guimarães Rosa viajou o Sertão de Minas com um lápis e uma caderneta na mão para colher, como que numa lavoura de palavras, expressões, trejeitos e a sabedoria dos sertanejos. Nos últimos anos, tenho tido a oportunidade de viajar pelo Sertão periodicamente por causa do meu trabalho. É incrível, todo mundo no sertão carrega em si a alcunha de um personagem possível. O mérito de um Guimarães Rosa reside exatamente no reconhecimento de que os personagens literários, antes de frequentarem as páginas das novelas e romances, estão aí no mundo habitando as histórias que esperam para ser contadas.
Nem é preciso ir muito longe para se descobrir um personagem. Gustave Flaubert, quando questionado sobre sua personagem mais famosa, não hesitou em dizer: “Madame Bovary sou eu!”. Antes de se imortalizar nas páginas do “Grande Mentecapto”, Geraldo Viramundo já fazia parte do imaginário popular mineiro há décadas. Ele já estava ali, vivo no imaginário popular, pedindo para ser escrito. Há tantos personagens esperando as páginas literárias. Quantas ficções a vida de um Profeta Gentileza não seria capaz de inspirar? Quer escrever um romance sobre a máfia? Por que não convidar nosso Fernandinho Beira-Mar?
Os personagens estão aí, flutuando pelo cotidiano, vestidos de realidade. Ao escritor resta acolhê-los, travesti-los de seu imaginário, jogando-lhes o “pozinho mágico” que os transformará em literatura. Porque a literatura vem da realidade, mas ela nem de longe é a própria realidade. Literatura é o real como poderia ser, nunca como é de verdade.
Para terminar, segue um videozinho [vida longa ao youtube!] do nosso querido e verdadeiro Manuelzão, personagem mais pitoresco de nossa literatura, cujas cenas da vida ganharam luz nova diante do olhar atento do nosso maior criador de personagens. Aliás Guimarães Rosa dizia que não tinha personagens, e sim “pesonagentes”.
Abraço, e até a próxima.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
LEVANTANDO DO CHÃO
***
Cada um lida com sua dor e com sua tristeza de maneira diferente. Há o caso clássico daqueles que se entregam às drogas, sejam lícitas ou ilícitas, na tentativa de escapar muito rapidamente da realidade por meio de uma ilusão passageira, da qual vai se sentir cada vez mais falta e, para tantos, significa um caminho sem volta. Existem também aqueles que buscam alento no ombro de amigos, choram as dores, pedem conselhos (nunca os acolhem), expurgam seus demônios e no fim acabam por expurgar os demônios alheios também – porque todo mundo tem os seus, até o amigo que agora te consola. Outra classe é a dos solitários. Estes são os que mediante ao sofrimento, preferem volver às suas próprias entranhas, buscando na solidão (ou na companhia de si mesmo) uma resposta à sua dor.
Ainda há centenas de outras formas de lidar com a dor. Ler, escrever, dançar, jogar futebol, pular de um abismo, subir uma montanha, ir a uma festa, dar uma festa, cantar, viajar, rezar, acertar a sena, dizer “oi”, ouvir “oi”, soltar pipa, dirigir a 200 por hora... na verdade são milhares as formas de escapar do sofrimento, porém, salvo uma ou outra exceção, todas as formas são variações das três primeiras citadas. Alucinação, consolo e solidão.
A literatura, as artes plásticas, a música, a ciência e tantos outros campos de ação humano, devem algumas de suas maiores realizações à dor (seja na tentativa de descrevê-la ou na tentativa humana de escapar dela). O próprio título desta postagem é retirado de uma obra cujo tema é a dor de todo um povo, oprimido por uma minoria. “Levantando do chão” é um clássico do português Saramago.

Quando o amor era a causa da sofrimento (quase todos os sofrimentos são por amor) já tivemos clássicos literários como “O amor nos tempos do cólera”, do colombiano Gabriel Garcia Marquez; telas magníficas como “O ciúme” do norueguês Edvard Munch; e mesmo a arquitetura já produziu maravilhas planejadas em meio a lágrimas e soluços de dor, como o Taj Mahal na Índia e algumas das Pirâmides do Egito. Eis a questão vital: o que faremos de nossa dor? Nos embriagaremos ou construiremos palácios?
Para encerar, um trecho do poema “If” (em uma tradução minha, bem alternativa) de autoria do poeta britânico nascido na Índia Rudyard Kipling (1865-1936).
Se você é capaz de arriscar num único lance
Tudo o que ganhou em toda a sua vida, e perder...
E, ao perder, sem cair no planto ou em lamentos,
Resignado, voltar ao ponto de partida;
Se você é capaz de forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta uma vontade em você que ainda ordena: "Persiste!"
Pax vobiscum amicis.
Até Breve.