terça-feira, 16 de março de 2010

ENCRUZILHADA


O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.

[Fernando Pessoa]

Não há como escapar, dado que somos seres de infinitas possibilidades, nossa vida nada mais é do que o resultado de nossas consecutivas escolhas. São as opções que nos matam. Há quem perca horas escolhendo a roupa para sair de casa. Na bolsa de valores, há quem decida o destino de milhões de dólares em segundos. E ainda há a noiva indecisa na hora do “sim”, já no altar; o goleiro, diante do pênalti; o suicida, no alto da ponte; o enxadrista, posto em cheque pelo computador; ou mesmo o santo, convidado a negar sua fé ante o carrasco.

Das mais simples às mais complexas, toda escolha tem o poder de mudar a nossa vida. Talvez o mais triste seja saber que ao termo de uma escolha, todas as outras possibilidades relacionadas a ela, cessem naquele instante. Talvez essas possibilidades ressuscitem nalgum momento futuro, mas o momento da escolha é o momento da morte de todas as possibilidades não escolhidas. Por isso vivemos um eterno luto pela morte da vida que não tivemos.

Todo dia me arrependo de centenas de escolhas que fiz. Não sou hipócrita a ponto de afirmar que, ao rever a minha vida, faria tudo igual de novo. Se pudesse mudaria um monte de coisas das quais não me orgulho de ter feito, participado ou escolhido sem a devida reflexão necessária. Eis o ponto, refletir sobre as escolhas é fundamental. A reflexão não garante sucesso ante uma escolha, porém garante a dignidade de no futuro, mesmo ante uma escolha incorrigivelmente desastrosa, imaginar que, naquele instante da peleja, ela era a mais plausível entre todas as outras.

Hoje estou numa encruzilhada. Como todo mundo um dia já esteve, como todo mundo um dia vai estar. Só queria um pouco da coragem daqueles navegadores ibéricos que, sob as bandeiras de Portugal e Espanha, escolheram enfrentar os temidos monstros e abismos de além-mar. A humanidade aprendeu com eles que uma atitude corajosa pode receber a recompensa de um Mundo Novo. Hoje preciso da sorte de um Cristovão Colombo, que errou um caminho e achou o eldorado americano; da firmeza de um Fernão de Magalhães, vencedor dos mais sangrentos motins; e da sagacidade de um Diogo Cão, homem que nunca esqueceu de deixar seus marcos onde foi preciso escolher. De todos eles quero a coragem para, a revelia de qualquer escolha, seguir em frente.

Este é o momento de deixar o atual padrão e para adiante navegar. Será?

Fica o poema “Padrão” do homem que escolheu ser poesia, Fernando Pessoa, cantado pelo homem que escolher ser música, Caetano Veloso.




Pax Vobiscum Amices

Até a próxima.