terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Sobre a melancolia dos discursos não ditos na festa do Oscar.


"Mito! Eras mito e eu te esperava".
Emílio Moura


Toda vez que alguém sobe ao palco para receber algum prêmio na festa do Oscar, faz-se tempo de um pequeno discurso. Este varia muito pouco. Fica restrito a listas de agradecimento, lágrimas de emoção ou piadinhas que só os americanos entendem. Raros são os exemplos de palavras de ordem política, ecológica, revolucionária ou artística. Nem, ao menos, é comum alguma improvisação que fuja à lógica de todo aquele cerimonial. O Oscar é isso: uma seqüência tediosa de discursos decorados cuja temática não é capaz de surpreender ninguém.

A idéia de discursos decorados pressupõe preparação. Acredito que todos, sem exceção, entre os que se julgam capazes de receber algum premio, preparam seus trinta segundos de fala. Haja vista aquelas pequenas listas em papel mal recortado que muitos se dispõe a ler em seu momento de glória. Muitos preparam. Só um discursa. Haverá momento mais melancólico do que aquele em que o derrotado, depois de uma estafante noite de expectativa, revisita seu bolso e lá encontra o papel cheio de nomes a serem lembrados no momento do prêmio que lhe foi negado?

Falo daqueles que realmente acreditavam-se merecedores do premio. Daqueles que não se imaginavam saindo do teatro sem a estatueta. Daqueles que se empenharam ao extremo em seus trabalhos, com o único objetivo de ganhar o Oscar, e perderam. São estes os que ensaiaram de fronte ao espelho por horas e horas solitárias. São estes que pensaram cada palavra e sua possível repercussão na mídia. São estes os que tremeram na hora do anúncio do vencedor de sua categoria. São esses os que tiveram de sorrir aquele estranho sorriso amarelo dos “bons” perdedores focalizados pelas câmeras do mundo todo. São estes os que agora estão de papel na mão pensando exatamente numa maneira de ganhar o Oscar no ano que vem.
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pax tecum amicis!
gaudium et spes...

ps1: “Onde os fracos não tem vez” é um bom filme.
ps2: o quadro destacado ao lado do texto, "Melancolia"(1891), é de Edward Munch. Tomara que ninguém me processe por isso.