quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Recomendações da Biblioteca de Babel, ou pequena boca livre para mendigos não iniciados


Do lado esquerdo do blog, logo abaixo do perfil, adicionei uma lista com dez recomendações literárias da Biblioteca de Babel (onde estão todos os livros do mundo). Esta lista será mudada mensalmente, conforme eu atualizar minhas leituras. Mas como essa é a primeira, optei por começar com alguns livros que considero clássicos. Mas o que é um clássico?

Muitas vezes, quando imaginamos o signo verbal "clássico", nossa mente vai em direção a algo que já carrega consigo certa antiguidade. Mas partilhamos da idéia de Italo Calvino, de que o clássico não é apenas o antigo, mas o eterno. Em se tratando de livros, Calvino afirma: "os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: Estou relendo... e nunca Estou lendo..."

Clássicos são livros que influenciam a história, e se deixam influenciar pela mesma. São livros que quando leio, sempre me despertam para alguma reflexão sobre mim ou sobre o mundo.

Enfim, clássicos são aqueles livros pelos os quais nunca podemos "correr os olhos" sem que sejamos atacados pelo vírus da reflexão.

Sei que não é fácil ler dez livros literários em um ano. Há pessoas que não lêem nem ao menos um único livro em toda vida. Ler é expandir horizontes. Ler um clássico é ir além do horizonte. Experimente tentar ler pelo menos um desses livros. Se já leu todos, releia, afinal estamos falando de clássicos, e clássicos existem exatamente para serem relidos sempre.

Dos que aí estão vou recomendar mais fortemente apenas um, a obra máxima da literatura brasileira, Grande Sertão: Veredas de João Guimarães Rosa, mineiro doido de Cordisburgo. Grande Sertão, é mais que um livro. É um milagre. Como diria o próprio Rosa, "Tudo é milagre. Duvida? Mesmo quando nada acontece há milagres que não estamos vendo". Mas este livro não é um milagre qualquer. Ele significa o nascimento da idiossincrasia literária brasileira.

Antes de Guimarães, com Machado de Assis, já havíamos alcançado o cume do mais elevado monte literário existente, porém as ferramentas que utilizamos nessa empresa alpinística ainda eram importadas da Europa. Guimarães Rosa, construiu suas próprias ferramentas, e nelas gravou "made in brazil". Ele reinventou o português escrito, inserindo nele não apenas as palavras o sertanejo, mas também seu peculiar jeito de falar, e mais, colocou filosofia e teologia na boca de gente da roça. Ou melhor, descobriu a filosofia e teologia que já estava lá, na roça. Mostrou que o Sertão tem seu mundo próprio. Mostrou que o "Ser-tão" é o mundo. Eis um trecho:

O senhor... Mire e veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. É o que a vida me ensinou”.

Leia os clássicos para ser-mais.

Pax tecum amicis!

Bem-vindo ao meu quintal

Este é o primeiro post. Nada especial. Um tanto quanto para explicar a reticente existência desse blog.

Comecemos pelo óbvio, o nome. Se chama, Banquete dos Mendigos. Não é nada original, apenas a tradução de "Beggar's Banquet ", título de um álbum clássico dos Rolling Stones lançado em 1968 (vide imagem à esquerda). Originalidade nunca foi meu forte. Como bom discípulo de Borges, nunca me preocupei com a imensurável sede moderna pela novidade. Prefiro dialogar com os antigos, ouvir o que eles tem para nos contar, re-contar.

Sempre fui um entusiasta das novas tecnologias. Porém, é a primeira vez que utilizo esta mídia para comunicar algum texto. Muitas vezes por preguiça, outras tantas por vergonha, eximi-me dessa tarefa.

Sempre fui um escritor inconfesso, silencioso. Nunca me expus em livraria. Parte por ainda não ter tentado, parte por desconfiar da qualidade das palavras que comunico e se cabem no disputado espaço das prateleiras literárias. No entanto, aqui estou. Aceito pela editora mais liberal do mundo, a internet. Pronto para submeter-me à investigação dos leitores mais severos, os internautas - equivalentes modernos dos inquisidores medievais.

Nada especial. Nada original (ainda é possível ser original em alguma coisa?). Pretendo apenas comentar, algo sobre literatura, música e arte. Quando não inspirado para comentar, talvez colocar algum trecho que a famigerada Biblioteca de Babel (lugar onde estão reunidas todas as letras do mundo de todas as épocas) nos oferece.
Sem mais por hoje, termino com alguma sensação de mediocridade textual. Não há mal nisso. Tolo é o pássaro que em seu primeiro vôo espera voar mais alto que o céu.

Em breve música, literatura e cinema...

Pax tecum amicis!