Honrarei o natal em meu coração e tentarei conservá-lo durante todo o ano.
Charles Dickens
João tinha a profissão de José, era Carpinteiro. Da instransponível oficina nos fundos de casa tirava o sustento da família. Serrote, enxó e martelo eram suas mãos. Sempre cheirava à madeira e cachaça. Era especialista em fazer mesas, armários e portas, mas gostava mesmo de fazer brinquedos para as crianças. Ele se divertia com o riso delas no quintal. Fingia raiva quando a meninada subia no pé-de-laranja, só para não perder o respeito. Suas camisas engomadas, seu paletó de ir à missa no domingo, seu cinto marrom com bainha para o inseparável canivete, o baralho encardido e sua voz mínima no som e máxima na autoridade, eis a mais forte memória coletiva da família.
Anita era Dona de Casa. Assim, maiúscula. Fazia da casa o reino de suas infinitas habilidades. Cuidava de um jardim que parecia crescer pra sempre. Rosas, margaridas, violetas, hortênsias, quase nenhum vaso. Tudo plantando direto na terra, como as plantas gostam. Fazia tricô, crochê e bordado. Gostava de tons marrons para suas peças, acho que porque combina com as peças de madeira talhadas por João. Cozinhava no fogão à lenha, porque não sabia calcular o tempo das quitandas no fogão à gás. Fazia os melhores doces do mundo e não provava nenhum, porque era diabética. Seus vestidos longos, sempre com estampas de flores, seus óculos de lentes grossas e sua doce seriedade cotidiana, formavam a imagem de uma santa, a única que podia rezar com a gente.
Em dezembro, todos vinham para casa abraçar João e Anita. Era quando os móveis e brinquedos de João faziam sentido. Era quando o jardim de Anita ficava mais florido. Aquela inexplicável felicidade de casa cheia. Pais, filhos, netos e algum bisneto. Novena de natal, comidas, histórias e estórias, as de sempre. Tudo tão igual ao ano anterior, tudo tão sincero. Dezembro terminava num domingo de manhã, depois do natal, com as despedias debaixo do pé-de-laranja velho.
Já faz alguns dezembros que João Damasceno Ferreira e Anita Damasceno Lopes, meus queridos avós maternos, se encantaram. Ficou a casa velha. Nela as ferramentas, móveis e brinquedos de João, as flores e bordados de Anita. Em breve estaremos todos lá. Sabemos que os dezembros nunca foram os mesmos sem João e Anita, mas se há dezembros é porque um dia eles estiveram lá.
***
Não aprendi ser carpinteiro como João. Não herdei nenhuma habilidade de Anita. Hoje compro os meus móveis e mal sei o período que tenho de regar meus mínimos vasos com cactos do deserto. Aprendi pouco ou quase nada com João e Anita. Mas quando lembro de João martelando na oficina e de Anita assoprando a lenha no fogão, percebo que com eles aprendi o mais importante: tudo que é simples, é mais fácil de amar. A eles, minha gratidão eterna.
***
Pax vobiscum amicis,
Boas Festas!
Bateu uma saudade da casa dos meus avós... Da cozinheira de mão cheia que ela era, do trabalhador que ele foi... Saudade das tardes que passei sob os seus cuidados!
ResponderExcluirBelo texto!
;D
parabens pelo blog,muito sucesso!
ResponderExcluirótimo o post, gostei muito! É uma lição de vida muito grande, aprendemos nas coisas mais simples e feitas com o amor, e é isso que devemos seguir em frente, transmitir simplicidade e fazer tudo com amor.
ResponderExcluirPassa lá também,
http://estude-me.blogspot.com/
Muito interessante seu texto!
ResponderExcluirMe fez pensar em muitas coisas...a qualidade de dezembro foi feita pelos avós, isso é mto poético!
"Tudo tão igual ao ano anterior, tudo tão sincero".
Parabéns pelo blog!
http://felipedesouza-psicologo.blogspot.com
Gente, o que é isso?! Me encanta a facilidade que muitos escritores, como vc, conseguem nos reportar ao passado, ou até mesmo a lugares e épocas que nunca vivemos, em virtude de tamanha sensibilidade e descrição das cenas, personagens.
ResponderExcluirSenti saudade até de um tempo que não vivi. Senti saudade de algo que não existiu. Mas o texto me permitiu enxergar a beleza na simplicidade dos momentos por que passei há anos, lá na casa dos meus avós.
Parabéns!
Dificílimo encontrar textos com esse teor e tamanha qualidade. Não há o que dizer além de SENSACIONAL!!! Até quem não conheceu João e Anita, acaba sentindo saudades deles de alguma forma...
ResponderExcluirParabéns!
Nossa!!!
ResponderExcluirQue texto lindo...
Uma bela homenagem, recheada de emoção, gratidão...
Parabéns.
*.*
Nossa, simplesmente incrível. Escritor de verdade tem que ser assim, prendendo a atenção do leitor, e você conseguiu com maestria.
ResponderExcluirNão há nada mais que eu possa dizer além de parabéns, você tem um enorme talento.
Não acredito que alguém consiga passar por aqui sem se prender.
Continue sempre escrevendo, nos faça esse favor.
http://tacadesabedoria.blogspot.com
Adriano, seu blog é uma prova de que existe vida inteligente na Intenert. Como você escreve bem, cara! Abraço
ResponderExcluirpensei que era um texto de ficção... no final fiquei na dúvida se foi baseado em algo real rssss
ResponderExcluirde qq forma vc arrebentou
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http://mikaelmoraes.blogspot.com
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FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO.
OBRIGADO!!!
Nossa, quanta nostalgia!
ResponderExcluirÉ impressionante como esse tipo de sensação não diminui com a saudade, só aumenta!
Ainda tenho vivos os meus avós maternos, com quem celebro o natal, mas com certeza os dezembros não serão mais os mesmos quando eles não estiverem mais lá.
Bela homenagem que fez, e belo o texto por si só.
Que bom presente foi achar seu blog às portas do natal. Vou segui-lo.
Parabéns!
Nostalgia pura, posts como este nos levam a reflexão e perceber como são boas as coisas mais simples da vida.
ResponderExcluirAi que lindo1 É percptivel seu carinhos por seus avos! *O* muito muito lindo *O*]bjks
ResponderExcluirQue texto lindo. Que saudade dos Natais com toda família reunida e dos almoços de domingo na casa da vó. Era um tempo tão bom. Adorei o blog
ResponderExcluirEu sou avessa a coisas referentes à família (não me dou com ninguém) e, pior, cresci sem avós. Vai ver foi por não ter essas referências que achei tão bonita a tua escrita!...
ResponderExcluirAbs.
Tatyana França
eu perdi minha vó esse ano,tenho ótimas lembranças dos meus natais com ela...vc escreve mto bem parabéns...to seguindo seu blog se puder seguir o meu
ResponderExcluirhttp://elaseleinsensatos.blogspot.com/2010/12/16-de-dezembro-aniversario-de-75-anos.html
Muito bonito o texto, me fez lembrar tambem dos meus avós, como alguém comentou... Acho que eu nunca passei o Natal ou Ano Novo com eles, mas penso exatamente em como era todo ano, mesmo eles estando em Recife e eu, em Natal. Nem é tão longe.
ResponderExcluirBoas festas!
Tem pessoas que tem muitas qualidades, mas a maior delas é saber dar saudade nos outros!
ResponderExcluirCARAMBA, QUE TEXTO EMOTIVO E TÃO BONITO...
ResponderExcluir...VC CONSEGUOU "APROXIMAR" JOÃO E ANITA DA GENTE EM TODOS ESSES BELOS PARÁGRAFOS E ISSO NÃO É ALGO FÁCIL DE FAZER, PARABÉNS!!!
Abrs,
www.vemaquinomeublog.blogspot.com
Poxa, parabéns...Excelente post.
ResponderExcluirNunca havia parado para pensar nisto...Acho que a proximidade nos impede de enxergar algumas verdades.
Que post lindo! ''tudo que é simples, é mais fácil de amar.'' eu também concordo, as atitudes, gestos, momentos mais simples, são os mais puros, verdadeiros, sendo assim são facieis de amar! Parabéns pelo blog, muito bom! Agraços e que você continue com esta simplicidade no teu coração..
ResponderExcluirhttp://rayrapha.blogspot.com/
Um texto puramente saudosista, acabei lembrando quando passava os fins de semana no sítio do meu tio avô.
ResponderExcluirMuito bom
Tenho que confessar, que quando vi este texto grande bateu-me uma preguiça, mas quando comecei a ler, deu-me uma vontade de ler cada vez mais.É incrivel. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirBelo texto, vou dar uma olhada nos antigos posts.!!!
ResponderExcluirFOrte abraço.
Fiat lux
O post está incrível!
ResponderExcluirVocê se expressou MUITO bem!
A última frase, faz sentido ao post inteiro, "tudo que é simples, é mais fácil de amar"!
Incrível!
Parabéns pelo blog!
Boas festas!
Abraço!
Sucesso!
Comente no meu blog também:
http://enricows.blogspot.com/
Lindo mesmo! De repente eu conseguia enxergar minha avó, dona Maria na descrição que faz de Anita!
ResponderExcluirÉ muito bom quando um texto tem o poder de fazer-nos visualizar uma cena!
Um abraço!
Maravilhoso texto! rico em detalhes! me fez imaginar! sentir...me senti próximo a aqueles familiares(fiquei preocupada agora...estou sentindo cheiro de doces huahuauhu)
ResponderExcluirhttp://medicinepractises.blogspot.com/
Veio saudades desses encantados também, até daqueles que nunca conheci ou conhecerei...Belo! Abraços procê Adriano
ResponderExcluirMaravilhoso esse texto, me vi visitando meus avós com outras habilidades. Muito bom mesmo, um dos poucos de todos os blogs que consegui e tive vontade de ler até o fim.
ResponderExcluirAbraço! ;)
http://anpulheta.blogspot.com
Grande habilidade pra comunicar, texto fluído, rico vocabulário, ritmo na narração. Com a diferença essencial, claro, de que você consegue transmitir toda a leveza, sentimento e doçura desse casal, nos fazendo voltar ao tempo e provar da doçura que era viver de forma tão verdadeira e simples.
ResponderExcluirCom tantas futilidades na blogosfera, realmente é uma bela surpresa te ler! Parabéns!
Um beijo,
@karilima
do Mulherices
www.mulherices.com.br
Texto perfeito.
ResponderExcluirGostei muito do seu blog.
Acho que ter um blog significa ter um espaço para dividir com pessoas de todo lugar do mundo, coisas que gostamos, pelas quais nos apaixonamos, aquilo que move nossa alma e nosso coração. Você faz isso muito bem, parabéns!
http://sabordaletra.blogspot.com/
Oi, Adriano! Fazia um tempinho q eu não passava por aqui. O que vc escreve é de uma simplicidade e de uma magia tão grande que me sinto transportada, como num conto de fadas. Aconteceram muitas coisas tristes na minha vida ultimamente, inclusive a perda da minha mãe (já havia perdido meu pai antes). A casa deles era uma referência prá todos (filhos, netos, amigos...) e a frase que vc escreveu e mais me tocou, foi "mas se há dezembros é porque um dia eles estiveram lá".
ResponderExcluirTocantemente lindo!!
quanto tempo eu não lia seu blog!de novo, meus parabéns!
ResponderExcluirgostaria de propor uma parceria. seu blog é uma grande inspiração.
aqui está o meu link, http://perguntasociosas.blogspot.com/
você já comentou lá, inclusive...
bom, espero resposta.
qualquer opinião, em caso de negativa da parceria, será bem-vinda.
obrigado!
parabéns!
Que texto emocionante, envolvente!
ResponderExcluirSenti saudades do meu pai e como ele era habilidoso com eletricidade e mecânica, tudo simples e funcional!!
Você é um escritor profissional né amigo!?
Oi, cara são nas coisas simples que encontramos a felicidade, pelo menos sempre vi dessa forma, rs.
ResponderExcluirAbraço e sucesso ;)
linda postagem!!!transmite para cada leitor, como a simplicidade é mais importantes que tudo!
ResponderExcluirNossa que blog mais lindoooo
ResponderExcluirParabéns, maior sucesso pra você!!
beijos
Nossa que blog mais lindoooo
ResponderExcluirParabéns, maior sucesso pra você!!
beijos