"Somos novos. E viemos (sic) pregar as
as idéias novas da Nova Arte.
E só.
E está acabado.
E não precisa mais.
Abrasileirar o Brasil - é o nosso risco.
Pra isso é que a VERDE nasceu.
Por isso é que a VERDE vai viver.
E por isso , ainda, é que a VERDE vai morrer." (VERDE, nº 1, p. 01)
Um dos mais significativos movimentos poéticos do período modernista brasileiro surgiu, misteriosa e silenciosamente, em Cataguases, município da Zona da Mata mineira, na primavera de 1927. Composto por jovens poetas, dentre os quais se destacaram nacionalmente Enrique de Resende e Ascânio Lopez, “Os Verdes”, como se denominavam, por uma conjunção inesperada de fatores, alcançaram altitudes poéticas que somente os grupos de raízes cosmopolitas conseguiram vislumbrar.
O Grupo Verde de Cataguases, não encontra similar em nenhuma cidade interiorana brasileira, e aí reside seu mistério. A miraculosa concatenação de fatores que causou a existência de um grupo poético de vertente modernista nunca pequena cidade do interior, mostrou-se única e, até hoje, irrepetível. E daí provêm o seu silêncio histórico. Por não encontrar similar em nossa história, este movimento interiorano, semi-bucólico, não atingiu os ecos que merecia nos altares de nossa literatura.
Para se ter idéia da potência criativa do Grupo Verde, seu órgão divulgador,um periódico conhecido como “Revista Verde”, chegou a alcançar seis extensos volumes, muito bem trabalhados por sinal. Logo no primeiro volume do Verde encontra-se aquele que é o marco lógico-fundamental do movimento, o singular “Manifesto Verde do Grupo Verde”, no qual encontram-se as bases teóricas que compõem a natureza do movimento. Mediante a impossibilidade de transcrever todo o manifesto, dada sua extensão (basta clicar no link acima para ver o facsimile do manifesto), transcreverei aqui, apenas a parte do documento intitulada como “resumindo”, ou seja, um breve resumo da obra e proposta do do Grupo Verde. Segue a transcrição do trecho:
“RESUMINDO
1.º Trabalhamos independentemente de qualquer outro grupo literário.
2.º Temos perfeitamente focalizada a linha divisória que nos separa dos demais modernistas brasileiros e estrangeiros.
3.º Nossos processos literários são perfeitamente definidos.
4.º Somos objetivistas, embora diversíssimos uns dos outros.
5.º Não temos ligação de espécie nenhuma com o estilo e o modo literário de outras rodas.
6.º Queremos deixar bem frisada a nossa independência no sentido “escolástico”.
7.º Não damos a mínima importância à crítica dos que não nos compreendem”.
Cataguases/1927
Assinaram o manifesto os poetas: Enrique de Resende, Ascânio Lopes, Rosário Fusco, Guilhermino César, Fonte Boa, Martins Mendes, Oswaldo Abritta, Camilo Soares, Francisco I. Peixoto.
Um poema de Enrique de Resende, maior expoente do grupo:
Da Felicidade
Estes tratados de
filosofia
Hão de pouco valer-te, meu amigo.
Enganador é o
mundo... Na verdade,
Feliz é o que, semeando o próprio trigo,
Confia no
ouro de futuras messes.
Na vã procura da felicidade,
Constrói, tu
próprio, um a filosofia
Diferentes das outras que conheces....
Fica o convite: conheçam os Verdes mais de perto! Se a poesia e o pensamento deles podem hoje soar como antiquados, mirem-se na atitude inovadora que eles tiveram em sua época. Eles mostraram que de uma pequena cidade do interior é possível participar das grandes revoluções mundiais, o mesmo tempo que é possível dar vazão as revoluções que estão nos seus sonhos.
Pax tecum amicis,
Até a próxima.