sexta-feira, 6 de março de 2009

O “GRUPO VERDE” DE CATAGUASES

"Eu fazia cinema, os verdes faziam literatura".
(Humberto Mauro).


"Somos novos. E viemos (sic) pregar as
as idéias novas da Nova Arte.
E só.


E está acabado.
E não precisa mais.
Abrasileirar o Brasil - é o nosso risco.
Pra isso é que a VERDE nasceu.
Por isso é que a VERDE vai viver.
E por isso , ainda, é que a VERDE vai morrer." (VERDE, nº 1, p. 01)


Um dos mais significativos movimentos poéticos do período modernista brasileiro surgiu, misteriosa e silenciosamente, em Cataguases, município da Zona da Mata mineira, na primavera de 1927. Composto por jovens poetas, dentre os quais se destacaram nacionalmente Enrique de Resende e Ascânio Lopez, “Os Verdes”, como se denominavam, por uma conjunção inesperada de fatores, alcançaram altitudes poéticas que somente os grupos de raízes cosmopolitas conseguiram vislumbrar.

O Grupo Verde de Cataguases, não encontra similar em nenhuma cidade interiorana brasileira, e aí reside seu mistério. A miraculosa concatenação de fatores que causou a existência de um grupo poético de vertente modernista nunca pequena cidade do interior, mostrou-se única e, até hoje, irrepetível. E daí provêm o seu silêncio histórico. Por não encontrar similar em nossa história, este movimento interiorano, semi-bucólico, não atingiu os ecos que merecia nos altares de nossa literatura. revista verde

Para se ter idéia da potência criativa do Grupo Verde, seu órgão divulgador,um periódico conhecido como “Revista Verde”, chegou a alcançar seis extensos volumes, muito bem trabalhados por sinal. Logo no primeiro volume do Verde encontra-se aquele que é o marco lógico-fundamental do movimento, o singular “Manifesto Verde do Grupo Verde”, no qual encontram-se as bases teóricas que compõem a natureza do movimento. Mediante a impossibilidade de transcrever todo o manifesto, dada sua extensão (basta clicar no link acima para ver o facsimile do manifesto), transcreverei aqui, apenas a parte do documento intitulada como “resumindo”, ou seja, um breve resumo da obra e proposta do do Grupo Verde. Segue a transcrição do trecho:


“RESUMINDO
1.º Trabalhamos independentemente de qualquer outro grupo literário.
2.º Temos perfeitamente focalizada a linha divisória que nos separa dos demais modernistas brasileiros e estrangeiros.
3.º Nossos processos literários são perfeitamente definidos.
4.º Somos objetivistas, embora diversíssimos uns dos outros.
5.º Não temos ligação de espécie nenhuma com o estilo e o modo literário de outras rodas.
6.º Queremos deixar bem frisada a nossa independência no sentido “escolástico”.
7.º Não damos a mínima importância à crítica dos que não nos compreendem”.

Cataguases/1927


Assinaram o manifesto os poetas: Enrique de Resende, Ascânio Lopes, Rosário Fusco, Guilhermino César, Fonte Boa, Martins Mendes, Oswaldo Abritta, Camilo Soares, Francisco I. Peixoto.

Um poema de Enrique de Resende, maior expoente do grupo:

Da Felicidade
Estes tratados de
filosofia
Hão de pouco valer-te, meu amigo.

Enganador é o
mundo... Na verdade,
Feliz é o que, semeando o próprio trigo,
Confia no
ouro de futuras messes.
Na vã procura da felicidade,
Constrói, tu
próprio, um a filosofia
Diferentes das outras que conheces....

Fica o convite: conheçam os Verdes mais de perto! Se a poesia e o pensamento deles podem hoje soar como antiquados, mirem-se na atitude inovadora que eles tiveram em sua época. Eles mostraram que de uma pequena cidade do interior é possível participar das grandes revoluções mundiais, o mesmo tempo que é possível dar vazão as revoluções que estão nos seus sonhos.

Pax tecum amicis,
Até a próxima.

domingo, 1 de março de 2009

CHOPIN É A MINHA CACHAÇA

Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua cachaça.
(Carlos Drummond de Andrade)

É inevitável, as noites de domingo sempre me conduzem à inebriante melancolia de Frédéric François Chopin. Desconfio que Chopin é a minha cachaça. Esse polonês do séc. XIX compôs algumas das mais belas peças para piano de todas as épocas, sendo elevado ao Panteão da música universal com o título de “poeta do piano”. Num momento inspirado pela poesia (tinha como poeta preferido seu conterrâneo Adam Mickievicz), noutro inspirando várias gerações de poetas. Os prelúdios e noturnos de Chopin tornaram-se, ao longo dos séculos, a trilha sonora mais perfeita para os momentos de romantismo dos quais nenhum de nós consegue escapar.

Mais do que qualquer palavra, vale ouvir um pouco do gênio Chopin (aqui apresentado por outro gênio, o pianista russo
Sergei Rachmaninoff):


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Pax tecum amicis,
Até Breve...