Eu não pinto coisas. Pinto a diferença entre coisas.
Henry Matisse
Na Folha de São Paulo de ontem (30/09/2009) foi publicado um dos mais impressionantes textos publicitários que já li. Uma página inteira, do caderno Ilustrada, nos convidando para conferir a exposição das obras do pintor francês Henry Matisse, na Pinacoteca do Estado. Mais do que uma simples propaganda, o texto é uma reflexão sobre a vida contemporânea e sua rispidez, secura e feiúra. Vivemos em um mundo que se organiza de tal forma a ser o contrário da arte, caracterizada principalmente pela leveza, liquidez e beleza. O texto da propaganda é mais do que um convite a uma exposição específica, é um convite a visitarmos à arte e nos relacionarmos por meio dela. Porque uma conversa sobre os quadros de Matisse, Picasso, Van Gogh, Portinari ou Guingnard deveria ser, cotidianamente, assunto nosso tanto quanto dinheiro, trabalho, sexo e futebol.
Segue o texto, na íntegra. Acredito que todos nós, os massacrados pela insensatez das impossíveis grandes cidades, nos identificamos com várias das situações descritas pelo anônimo autor.
***
Aos que estão cercados de cinza por todos os lados.
Aos que estão rodeados de computadores, esverdeando dentro de escritórios.
Aos que estão parados, ladeados por carros num trânsito dos infernos.
Aos que estão encaixotados dentro de elevadores.
Aos que estão isolados por paredes, curando-se de gripe suína.
Aos que estão espremidos dentro de conduções.
Aos que estão cercados de carteiras, focados numa grande lousa.
Aos que estão desaparecendo dentro de uma fina garoa.
Aos que estão sendo consumidos por sofás.
Aos que estão completamente cercados pela pressa.
Aos que estão totalmente possuídos por multiplicar dinheiro.
Aos que estão rodeados por santos e rezas.
Aos que estão absorvidos pelo desejo de vingança.
Aos que estão cercados por recém-nascidos berrando em suas pequenas camas de acrílico.
Aos que estão no meio de uma confusão que não lhes diz respeito.
Aos que estão cercados por comprimidos.
Aos que estão rodeados por assombros.
Aos que estão dominados pela fúria.
Aos que estão rodeados de enormes vitrais com um rodinho e sabão.
Aos que estão comprando a idéia de uma sociedade de consumo.
Aos que estão observando os fumantes consumindo suas ampolas fora de estabelecimentos.
Aos que estão tensos numa pequena sala que antecede a entrevista de emprego.
Aos que estão cercados de tristeza e de entes queridos num cemitério.
Aos que estão rodeados de madames mal-educadas numa lavanderia.
Aos que estão em seus casulos, protegidos por enormes cercas elétricas.
Aos que estão com a cabeça em parafuso.
Aos que estão prestes a fazer um pedido de casamento.
Aos que estão rodeados por advogados numa audiência de separação.
Aos que estão cobertos por jornais, dormindo em bancos.
Aos que estão no centro de uma roda de contas a pagar.
Aos que estão tendo seus pulmões consumidos por gases de álcool e gasolina nos postos das esquinas.
Aos que estão desistindo do convívio humano e se cercando de animais de estimação.
Aos que estão rodeados do prazer de dizer que estão faltando alguns documentos.
Aos que estão cobertos de medo do pânico.
Aos que estão querendo trocar de sexo.
Aos que estão tomados por tristes lembranças da infância.
Aos que estão sobrecarregados pelo esforço de puxar carroças pelas ruas.
Aos que estão rodeados de enormes labaredas, tentando contê-las com mangueiras.
Aos que estão cercados e sendo consumidos pelo cotidiano tolo.
Aos que estão cercados de segredos.
Aos que estão cercados pelo sentimento de culpa.
Aos que estão no centro de uma importante questão.
Aos que estão cobertos de graxa embaixo dos eixos dos veículos.
Aos que estão cercados de tapinhas nas costas.
Aos que estão acabrunhados porque levaram um pé na bunda.
Aos que estão acobertados por um disfarce.
Aos que estão cercados de teorias.
Aos que estão envoltos em mentiras.
Aos que estão cercados de bisturis, sendo abertos em mesas cirúrgicas.
Aos que estão atarefados com os afazeres domésticos.
Aos que estão cercados por gerúndios em telefones.
Aos que estão rodeados por máquinas barulhentas, perdendo a audição.
Aos que estão sedentos por sentir algo.
Aos que estão cercados por familiares, lutando contra um vício.
Aos que estão certos de não crer em nada.
Aos que estão construindo um corpo escultural e esquecendo da mente.
Aos que estão cheios de não me toques.
Aos que estão perdendo a razão.
Aos que estão cercados por um império, perdendo a noção de valores.
Aos que estão aqui somente para criticar.
Aos que estão consumidos pelo desejo de voar.
Aos que estão sucumbindo à corrupção.
Aos que estão sendo corroídos pela depressão.
A todos vocês, a luz e as cores de Matisse.
A todos vocês e mais aos esquecidos.
***
Primeira exposição individual de Matisse no Brasil
Pinacoteca do Estado de São Paulo
Até 1º de novembro de 2009
***
Pax Tecum amicis
Segue o texto, na íntegra. Acredito que todos nós, os massacrados pela insensatez das impossíveis grandes cidades, nos identificamos com várias das situações descritas pelo anônimo autor.
***
Aos que estão cercados de cinza por todos os lados.
Aos que estão rodeados de computadores, esverdeando dentro de escritórios.
Aos que estão parados, ladeados por carros num trânsito dos infernos.
Aos que estão encaixotados dentro de elevadores.
Aos que estão isolados por paredes, curando-se de gripe suína.
Aos que estão espremidos dentro de conduções.
Aos que estão cercados de carteiras, focados numa grande lousa.
Aos que estão desaparecendo dentro de uma fina garoa.
Aos que estão sendo consumidos por sofás.
Aos que estão completamente cercados pela pressa.
Aos que estão totalmente possuídos por multiplicar dinheiro.
Aos que estão rodeados por santos e rezas.
Aos que estão absorvidos pelo desejo de vingança.
Aos que estão cercados por recém-nascidos berrando em suas pequenas camas de acrílico.
Aos que estão no meio de uma confusão que não lhes diz respeito.
Aos que estão cercados por comprimidos.
Aos que estão rodeados por assombros.
Aos que estão dominados pela fúria.
Aos que estão rodeados de enormes vitrais com um rodinho e sabão.
Aos que estão comprando a idéia de uma sociedade de consumo.
Aos que estão observando os fumantes consumindo suas ampolas fora de estabelecimentos.
Aos que estão tensos numa pequena sala que antecede a entrevista de emprego.
Aos que estão cercados de tristeza e de entes queridos num cemitério.
Aos que estão rodeados de madames mal-educadas numa lavanderia.
Aos que estão em seus casulos, protegidos por enormes cercas elétricas.
Aos que estão com a cabeça em parafuso.
Aos que estão prestes a fazer um pedido de casamento.
Aos que estão rodeados por advogados numa audiência de separação.
Aos que estão cobertos por jornais, dormindo em bancos.
Aos que estão no centro de uma roda de contas a pagar.
Aos que estão tendo seus pulmões consumidos por gases de álcool e gasolina nos postos das esquinas.
Aos que estão desistindo do convívio humano e se cercando de animais de estimação.
Aos que estão rodeados do prazer de dizer que estão faltando alguns documentos.
Aos que estão cobertos de medo do pânico.
Aos que estão querendo trocar de sexo.
Aos que estão tomados por tristes lembranças da infância.
Aos que estão sobrecarregados pelo esforço de puxar carroças pelas ruas.
Aos que estão rodeados de enormes labaredas, tentando contê-las com mangueiras.
Aos que estão cercados e sendo consumidos pelo cotidiano tolo.
Aos que estão cercados de segredos.
Aos que estão cercados pelo sentimento de culpa.
Aos que estão no centro de uma importante questão.
Aos que estão cobertos de graxa embaixo dos eixos dos veículos.
Aos que estão cercados de tapinhas nas costas.
Aos que estão acabrunhados porque levaram um pé na bunda.
Aos que estão acobertados por um disfarce.
Aos que estão cercados de teorias.
Aos que estão envoltos em mentiras.
Aos que estão cercados de bisturis, sendo abertos em mesas cirúrgicas.
Aos que estão atarefados com os afazeres domésticos.
Aos que estão cercados por gerúndios em telefones.
Aos que estão rodeados por máquinas barulhentas, perdendo a audição.
Aos que estão sedentos por sentir algo.
Aos que estão cercados por familiares, lutando contra um vício.
Aos que estão certos de não crer em nada.
Aos que estão construindo um corpo escultural e esquecendo da mente.
Aos que estão cheios de não me toques.
Aos que estão perdendo a razão.
Aos que estão cercados por um império, perdendo a noção de valores.
Aos que estão aqui somente para criticar.
Aos que estão consumidos pelo desejo de voar.
Aos que estão sucumbindo à corrupção.
Aos que estão sendo corroídos pela depressão.
A todos vocês, a luz e as cores de Matisse.
A todos vocês e mais aos esquecidos.
***
Primeira exposição individual de Matisse no Brasil
Pinacoteca do Estado de São Paulo
Até 1º de novembro de 2009
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Pax Tecum amicis
O Seu blog também é cultura. Excelente dica e bom conteúdo. Ir a picacoteca é bom, para testar nossos conhecimento sobre historia da arte! ehhe bjos
ResponderExcluir"Aos que estão rodeados de computadores, esverdeando dentro de escritórios." - Sou eu...
ResponderExcluiruhauauhauhauhauhauhauh
muuuuito bacana mesmo o convite!
http://fliperamatilt.blogspot.com
segue o twitter tb ^^
http://twitter.com/PrototipoStudio
Valeu!!!
que coisa linda...dá uma calma...
ResponderExcluirA ARTE E UMA COISA TÃO BOA PORQUE CONSEGUE ABRANGIR TUDO E TODAS DE FORMA TÃO HUMANA E RICA DE CONHECIMENTOS
ResponderExcluirPARABENS PELO BLOG MUITO BOM MSM
GRANDE ABRAÇO!!!
O texto fala das pessoas que se preocupam com tantas coisas no mundo moderno, que esquecem de prestar atenção nas coisas simples da vida.
ResponderExcluirAdoraria ir à exposição, me deixou com vontade de conhecer mais...
Parabéns pelo blog.
Nossa, demais!
ResponderExcluirApesar de que acho que o computador e outras coisas podem nos fazer ter contato com as artes - vai da forma como se usa.
Eu tenho nojo de viver nesse tempo, apesar de crer (sem ter certeza) de que o mundo sempre fora medíocre - por exemplo, antes lia-se mais e existia-se mais amor à família por não ter outras opções (TC, Opressão Zér povista, etc)...
abç
ótimo blog
Pobre Esponja
kra muito bacana, pena que a diferença de estados é tão grande
ResponderExcluir"...Acredito que todos nós, os massacrados pela insensatez das impossíveis grandes cidades, nos identificamos com várias das situações descritas pelo anônimo autor..."
ResponderExcluirótimo post, adorei sua isão acerca do assunto.
http://cemiteriodaspalavrasperdidas.blogspot.com/
genial esse texto! é díficil ver um trabalho publicitário tão abrangente que seja tão profundo e tocante.
ResponderExcluirGenial, cara!
ResponderExcluirNos submetemos a esse tipo de vida, onde nos esquecemos das particularidades, individualidades de cada um, nos massificamos, somos apenas mais um... e esquecemos de apreciar as coisas belas que lindos momentos podem nos proporcionar!
_____
http://planetabandonado.blogspot.com/
Muito bom, o seu blog, e adorei a pintura! E o poema, tb! Muito lindo!!^^
ResponderExcluirBeijos
Eu gostaria muito de ir ver essa exposição, infelizmente não poderei ir.
ResponderExcluirAcho que os alunos da sua escola tem toda razão.
É infelismente nosso mundo é asim mesmo! E cada vez ficará pior...
ResponderExcluirCara, adorei a escolha do seu tema.
ResponderExcluirPintar diferenças... Que artista!
Parabéns pelo blog, o layout está show!
Sorte!
http://identidade-cultural.blogspot.com/
Muito boa sua postagem!!! Eu adoro arte e quem adora arte! =) Eu tive em meu colégio e adorava as aulas porque elas relaxam, nos abrem o coração para o belo, colorido e harmonioso! hehehe
ResponderExcluirBom mesmo!!! =) Li tudinho, tá? hehehe Bom, acho que eu tenho mofado nos livros e computador! Mas, vou sim cultivar arte na cozinha hihihi adoro! E visitarei pinacotecas o mais rápido possível!!! =D
Abraços e visite meu blog tbm! =D
http://neowellblog.wordpress.com/
De início pensei que teria algo como os desvaneios da década de 20, depois pensei que o anônimo queria contemplar a todos simplesmente, o que não deixa de ser, e no fim termina de forma apoteótica. De fato é uma excelente produção. Parabéns pela sensibilidade em encontrar algo assim e compartilhar conosco!
ResponderExcluirAbraço!
Muito bom mesmo!
ResponderExcluirAs luzes retratadas nas obras de Matisse são realmente magníficas. Observo as coisas que as pessoas chamam de arte hoje em dia e penso que artistas como ele se retorcem em seus túmulos.
http://sarapateldecoruja.blogspot.com/
cara, muito bom o texto, retrata o cotidiano do ser humano da cidade grande, muito bacana mesmo!
ResponderExcluirMatisse vivia assim mesmo.
ResponderExcluirVan Gogh, vivia assim mesmo. [2]
Tudo louco. Hoje, tudo gênio.
Abçs
Puxa vida, só o fato de ser uma exposição de Matisse já deveria servir de motivação pra qualquer um que está consumido por sofás, rodeado de madames mal-educadas numa lavanderia e principalmente aqueles que construindo um corpo escultural e esquecendo da mente.
ResponderExcluirA peça publicitária é muito boa, chama a atenção e atinge em cheio...ao menos aqueles que tem a sensibilidade de conferir as luzes e cores de Matisse.
( e concordo, uma conversa sobre quadros de Van Gogh, Monet, Munch e tantos outros deveria ser um assunto cotidiano também)
abs
muito bonito esse texto...eu ja ouvi falar varias nele..mas nunca tinah lido nada,,,achei fantastico,
ResponderExcluirParece ser mto bom, incentivo a cultura é sempre bem vindo...
ResponderExcluirEu sinceramente se fosse a uma exposição dessas eu acharia que foi tempo perdido.Eu falo sinceramente por que tem gente que vai ,não aprecia nada e finge que entendeu.mas eu devia mesmo apreciar arte
ResponderExcluirvaleu a dica
O melhor texto sobre arte que já vi até hoje! Veja só como atrai: vai no lugar comum, aonde as pessoas estão, engessadas pela tecnologia. TEmos muito tempo para inutilidades e pouco ou nada para aquilo que levamos para a eternindade.
ResponderExcluirParabéns pelo ótimo post!
Bjs
Seu blog é um veículo que divulga com tecnologia a verdadeira arte. Fazer uso dela com bom senso e dando uma chance pra levar cultura aos anecéfalos virtuais é um verdadeiro dom. Continue assim!
ResponderExcluirSuper beijo
Pow , blog bem cultural hein , e quando li essa frase embaixo do titulo quase tive um treco , lembrei da minha professora de artes que vive falando desse henri matisse (detalhe ela eh tosca então naum vale a pena lembrar dela¬¬) mesmo assim , bom blog , até mais .. espero vooc no meeu www.conexaotoonami.blogspot.com
ResponderExcluirPerfeito.
ResponderExcluirDeu vontade de visitar a exposição, pena que estou longe...
Te Cuida!Excelente fim de semana pra ti!
Gostei muito do blog.
ResponderExcluirSua maneira de expressar encanta!
Belas palavras.
Até.
"Aos que estão cercados de segredos.
ResponderExcluirAos que estão cercados pelo sentimento de culpa."
Ambos sou eu... :x
Muito bom o post, parabéns.
Darei um jeito de ir ver essa exposição, pois o texto já me interessou muito.
beeijo
http://andnobodyelse.blogspot.com
E durante a vida, as pessoas s´´o esqueem de uma coisa... de viver de fato, talvez por se preocuparem demais em saber o que sea viver de fato...
ResponderExcluirgostei desse canto
=*
a exposição realmente é incrivel!
ResponderExcluirParabéns pelo blog!!!!
ResponderExcluiré o tipo de coisa que aumenta o nosso gosto pela cultura...^^
Nossa mandou muito bem! vou enviar para um amigo que foi conferir matisse na exposição. bjos
ResponderExcluirAdorei seu blog, Excelente com um ótimo conteúdo.
ResponderExcluirBacana esse blogue.
ResponderExcluirSim, poderiam ser conversas cotidianas, mas infelizmente...
Fico com inveja dos paulistanos agora. Quem me dera ver um Matisse.
amei!perfeito!
ResponderExcluirDeu muita vontade de ir... pena a distância! Seu blog é muito bom!
ResponderExcluirFoi uma das exposições mais comentadas por aqui. Pena que eu não fui conferir.
ResponderExcluirValeu pela sua visão sobre o artista.
bjos
nao tem como nao se identificar em alguma das caracteristicas acima apresentadas....eu me identifiquei com varias...
ResponderExcluir